terça-feira, 12 de outubro de 2010

NICOL

http://www.youtube.com/watch?v=S8H0U3VdqEk

NICOLELIS apóia DILMA

Por que é que o sr. decidiu anunciar publicamente seu apoio à candidata Dilma Rousseff?

Porque desde as eleições do primeiro turno eu cheguei à conclusão que essa é uma eleição vital para o futuro do Brasil e eu estou vendo um debate que está se desviando das questões fundamentais na construção desse futuro e dessa maneira eu achei que como cientista brasileiro, mesmo estando radicado no Exterior — mas que tem um projeto no Brasil e tem interesse que o Brasil continue seguindo este caminho — eu achei que era fundamental não só que eu mas que todos que pudessem se manifestassem a favor e fizessem uma opção pelo futuro que a gente acredita que é o correto para o nosso país.

Que futuro é esse?

É o futuro da inclusão social, o futuro em que as crianças que ainda nem nasceram possam ter a educação, saúde, ciência, tecnologia e a possibilidade de construir os seus sonhos pessoais sejam eles quais forem. Futuro que nós, a sua e a minha geração não tiveram. E um futuro que não leve o Brasil a retornar a um passado recente onde nós tinhamos, além da insegurança financeira, uma total falta de compromisso com o povo brasileiro e com a coisa brasileira. Então, nesse momento para mim essa é uma eleição vital, é um momento histórico para o Brasil. Eu viajo pelo mundo inteiro e eu nunca vi o nome do Brasil e a reputação do Brasil tão alta (inaudível) e este é o momento de deslanchar de vez e não voltar para o passado.

Fale um pouquinho do projeto que o sr. tem em Natal pra gente e da importância que o sr. acredita que o governo Lula teve — eu já li muito o que o sr. escreveu a respeito — para que esse projeto fosse implantado.

Nosso projeto é o primeiro projeto no mundo que usa a ciência como agente de transformação social – ciência de ponta.

Quando, oito anos atrás, comecei esse projeto… fui a São Paulo, me disseram que não havia esperança de fazer nada igual fora de São Paulo, porque 80% da produção científica do Brasil está concentrada no estado de São Paulo.Eu usei isso como um diagnóstico dos erros passados, porque um país que quer se desenvolver como uma federação e que quer oferecer cidadania ao seu povo não pode concentrar a produção de conhecimento de ponta e a disseminação de conhecimento de ponta num único estado da União.

E aí eu propus de levar esse projeto de ponta — que é fazer neurociência como se faz em qualquer lugar do mundo, em lugares que são, que tem a dianteira da fronteira dessa área no mundo — na periferia de Natal, usando essa ciência para desenvolver uma série de projetos sociais que permitem que a criança tenha um projeto educacional desde a barriga da mãe — que faz o pré-natal dentro de nosso campus do cérebro — até a pós-graduação na universidade pública.

E o primeiro grande parceiro desse projeto foi o governo federal, foi o presidente Lula e a seguir quem eu considero o maior ministro da Educação que o Brasil jamais teve, dr. Fernando Haddad, que transformou não só as políticas públicas mas o pensar do Brasil em educação, concluindo e chegando à conclusão que toda criança brasileira tem direito a perseguir seus sonhos intelectuais e não só ser abandonada em alguma escola técnica para servir ao mercado de trabalho. Que ela pode ser física, química, bióloga. É isso o que nós fazemos.

Nós criamos um projeto de educação científica que é principalmente um projeto de educação para cidadãos, que vão lá no turno oposto da rede pública, são mil crianças no Rio Grande do Norte, 400 crianças no interior da Bahia — na terceira escola que nós acabamos de abrir — e nós vamos ampliar isso para 2 mil crianças no ano que vem e se tudo der certo para 4 mil crianças em 2012. E esse projeto só foi possível porque o Ministério da Educação e o governo federal acreditam, como a gente, que essas crianças da periferia de Natal, do interior da Bahia, do sertão do Piauí, do Amazonas, de Roraima, também tem direito à educação de altíssimo nível e a perseguir seus sonhos intelectuais.

E como é que isso se conecta com a campanha de Dilma Rousseff?

Essa é uma visão de país onde a cidadania é levada a todos os brasileiros, onde todos os brasileiros tem a oportunidade de acesso ao conhecimento e à informação para fazerem e tomarem decisões por si mesmos, de acordo com a sua própria visão do mundo. Eu acredito que a candidatura da ministra Dilma possibilita viabilizar esse futuro para o Brasil e a candidatura oposta, a candidatura do partido de oposição, ela basicamente não tem mensagem alguma para o resto do Brasil, ela tem mensagem para a sua audiência, que é restrita, na minha opinião, ao estado de São Paulo e talvez até a cidade de São Paulo, não existe projeto de Brasil na outra candidatura. Enquanto a futura presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem um projeto de Nação que é o que sempre faltou para o nosso país. Nós sempre tivemos projetos de alcançar o poder e nunca um projeto de Nação. E o que o presidente Lula fez que foi colocar o Brasil nesse caminho, só pode ser, na minha opinião, continuado, com as políticas públicas que a ministra Dilma tem proposto e que eu acredito vai dar continuidade. Se nós não tivermos essa disposição de ter um projeto de Nação, se nós optarmos como país pela outra proposta, eu temo que infelizmente o Brasil vai perder sua chance histórica de se transformar no país que todos nós queremos ter.

Dr. Nicolelis, qual é a importância do conhecimento que o sr. está transferindo — o sr. está em Duke, agora?

Estou aqui em meu laboratório da Duke [University, na Carolina do Norte] nesse momento, mas quarta-feira já estou viajando para o Brasil, para Natal, onde nós montamos um centro de pesquisas de ponta, de neurociências. Nós estamos transferindo conhecimento, inovação, do mundo todo… Nós estamos a ponto de receber o que vai ser um dos mais velozes supercomputadores do Hemisfério Sul, doado pelo governo da Suiça, um dos maiores centros de tecnologia do mundo – a Escola Politécnica de Lausanne, que fechou um convênio com nosso instituto de cooperação internacional – então nós estamos criando em Natal, na periferia de Natal, num dos distritos educacionais mais miseráveis do país, um centro de disseminação de conhecimento de ponta que está transformando não só a neurociência brasileira como a forma de educar as crianças e a forma de trazer as mães destas crianças para dentro de um projeto de inclusão e de cidadania.

Nós estamos construindo lá o primeiro campus do cérebro do mundo, não existe nada igual em nenhum lugar do mundo. E quando o governo suiço veio visitar as obras, veio ver o que nós estávamos fazendo, eles ficaram completamente encantados. Então, eles decidiram fechar um acordo de colaboração conosco ao mesmo tempo em que eles estão fechando um acordo com a [Universidade de] Harvard. Ou seja, nós ficamos em pé de igualdade com a maior universidade do mundo pela inovação da proposta que nós temos na periferia de Natal, provando que em qualquer lugar do Brasil algo desse porte pode ser feito.

Dr. Nicolelis, além do governo federal e agora do governo da Suiça, existem outras entidades ou instituições privadas colaborando com esse projeto?

Ah sim, este é um projeto privado. Mais de dois terços dos nossos fundos e do nosso suporte financeiro vem de doações privadas de brasileiros que moram fora, no Exterior, de fundações europeias, americanas, nós temos parcerias — inúmeras — pelo mundo afora e a beleza disso é que para cada real investido pelo governo federal nós conseguimos coletar quase três reais privados no Exterior e mesmo dentro do Brasil — o hospital Sírio Libanês, por exemplo, é um de nossos parceiros, a Fundação Lily Safra, da brasileira Lily Safra, é uma outra parceira. Nós conseguimos captar para cada real investido publicamente quase três reais privados, mostrando que é possível, sim, realizar parcerias público-privadas que tenham um fundo e um escopo social tão grande quanto este projeto.

Dr. Nicolelis, qual é a importância de o Brasil desenvolver as suas próprias tecnologias em conjunto com universidades de outros países para a soberania nacional e para a capacidade do país inclusive de reduzir a importação de equipamento fabricado fora do Brasil?

Ah, sem dúvida, eu acho que a Petrobras é o grande exemplo, a Petrobras e a Embraer. Nós precisamos de Googles, Microsofts, IBMs brasileiras. Nós precisamos transferir o conhecimento de ponta gerado pelas nossas universidades e pelos nossos cientistas — e o Brasil tem um exército de fenomenais cientistas dentro do Brasil e espalhados pelo mundo que estão dispostos, como eu, a colaborar com o Brasil. Nós temos que criar uma indústria do conhecimento brasileira. É uma questão de soberania nacional. A questão que me chamou a atenção agora, no começo da campanha do segundo turno, a questão da Petrobras, ela se aplica à indústria do conhecimento, que vai ser a indústria hegemônica na minha opinião, no século 21, que pode vir a ser o século do Brasil.

Mas, para isso, nós temos que investir no talento humano. Nós temos que criar formas dessa molecada — como as nossas crianças de Natal — de se transformar em cientistas, inventores, de uma maneira muito mais rápida e ágil do que as formas tradicionais que requerem todo esse cartório até você receber um doutorado e ser reconhecido oficialmente como cientista. Eu estou encontrando crianças no nosso projeto, por exemplo, de 17, 18 anos, que estão sendo integradas às nossas linhas de pesquisa antes mesmo delas entrarem na universidade, porque elas tem o talento científico, talento de investigação, curiosidade e que podem dar frutos muito mais rápidos do que a minha geração deu para o país.

Mas este investimento que pode ser feito com os fundos que vão vir do Fundo Social do Pré-Sal tem que ser feitos para revolucionar a ciência brasileira e criar uma coisa que eu gosto de chamar de “ciência tropical”, que é a ciência do século 21, aplicada às grandes questões da Humanidade — energia, ambiente, suplemento de comida, suplemento de água, novas formas de disseminação democrática da informação — tudo isso faz parte do escopo dessa “ciência tropical” em que o Brasil tem condições plenas de ser, se não o líder, um dos grandes líderes deste século.

Dr. Nicolelis, onde que está aí o nexo entre o que o sr. acabou de dizer, que o sr. mencionou, e a riqueza da biodiversidade brasileira, que ainda não é explorada?

Nós nem sabemos o que nós temos, Azenha. Nós nem tivemos a chance de mapear essa riqueza. Todo mundo fala dela mas ninguém pode dar uma dimensão. Então, esse discurso que eu ouço, ambientalista, superficial, que foi caracterizado no primeiro turno, inclusive, da eleição, ele não serve para nada, porque ele não aprofunda nas questões vitais.

As questões vitais é que a soberania do Brasil também depende de investimentos estratégicos no mapeamento das riquezas que nós temos, do que pode ser feito para o povo brasileiro em termos de novos medicamentos, novas fontes alimentares, novas fontes de energia. Existem dezenas de sementes oleaginosas do semi-árido que são não-comestíveis, que são muito mais eficientes na produção de óleo do que a mamona, por exemplo, que poderiam ser usadas em projetos de parceria de cooperativa no interior da caatinga do Brasil, para se produzir óleo biocombustível para trator, caminhão, que aliviariam tremendamente os custos da produção alimentar, familiar, nessa região do Brasil.

Isso precisa ser explorado, precisa ser mapeado com investimentos em pesquisa básica, em estudos de genômica funcional dessas plantas, tentar entender porque elas conseguem produzir esses óleos de alto valor energético e tentar transferir isso para a economia do Brasil. Existe toda uma economia que pode ser altamente sustentável, que pode preservar muito melhor o ambiente do que nós estamos fazendo até hoje e que pode servir de retorno em empregos e conhecimento que ampliariam ainda mais a matriz renovável energética brasileira.

Então, são coisas que estão na nossa cara e que eu acho que só uma política voltada para o Brasil, uma política que dê continuidade ao que o presidente Lula iniciou nestes oito anos, vai ter condições de manter dentro do Brasil. Porque existem evidentemente interesses enormes nessas riquezas nacionais, existe um interesse enorme nos cérebros brasileiros que estão desenvolvendo essas ideias e nós temos que manter isso de uma maneira agregada ao Brasil e não simplesmente dar isso de mão beijada para o primeiro que bater na porta com uma oferta ridícula de privatização ou da venda de nosso patrimônio intelectual para fora do Brasil.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

EUA e ética na pesquisa

Experimentos realizados por EUA podem ter deixado 71 mortos na Guatemala

Pelo menos 71 guatemaltecos utilizados nas experiências dos Estados Unidos com sífilis e gonorreia na década de 1940 morreram durante a pesquisa. As informações são de Prensa Libre, com base em um relatório do Departamento de Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos.

Por Redação
[07 de outubro de 2010 - 18h32]
Pelo menos 71 guatemaltecos utilizados nas experiências dos Estados Unidos com sífilis e gonorreia na década de 1940 morreram durante a pesquisa. As informações são de Prensa Libre, com base em um relatório publicado pelo Departamento de Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos (HHS, por sua sigla em inglês).

De acordo com a reportagem da agência de notícias, assinada por Óscar Ismatul e Antonio Ordóñez, HHS publicou na internet um documento em que revela que o projeto e a condução das pesquisas realizadas na Guatemala nos anos 1940 foram "pouco éticas em muitos aspectos".

A investigação mostra que 71 pessoas infectadas com sífilis e gonorreia nos experimentos morreram durante a fase de observação. Entretanto, ainda não se sabe se as mortes foram causadas pela condição das experiências ou por outros fatores.

"Durante a observação, 71 das pessoas a quem se lhes inoculou a enfermidade morreram (...) ainda que os arquivos não permitam determinar se os decessos têm alguma relação com os procedimentos aos quais se lhes submeteram", aponta.

O Departamento dos Estados Unidos ainda destacou que apenas 331 dos 497 contagiados pela sífilis receberam tratamento e que "só terminou de administrar a dose de penicilina em 85".

O documento foi elaborado dias após a publicação de um estudo da médica Susan Reverby, no qual aponta que guatemaltecos e guatemaltecas foram usados para experimentos médicos entre os anos 1946 e 1948. Durante esse período, profissionais a serviço da saúde pública dos Estados Unidos infectaram 696 guatemaltecos - intencionalmente e sem conhecimento ou consentimento deles - com sífilis e gonorreia.

O objetivo dos experimentos era observar os efeitos das doenças transmitidas sexualmente e como a penicilina poderia combatê-las. O caso tornou-se público após a investigação de Reverby, quem descobriu os arquivos de John Cutler, um dos responsáveis pelo experimento. Na sexta-feira passada (1º), depois de tomar conhecimento sobre o assunto, o governo dos Estados Unidos lamentou e pediu desculpas ao país centro-americano por tais experiências.

Comissão da Guatemala

Tudo indica que as investigações referentes ao episódio não sairão apenas dos Estados Unidos. Na última segunda-feira (4), o mandatário guatemalteco, Álvaro Colom, formou uma comissão para descobrir "como foi possível" que pesquisadores estadunidenses realizassem tal experiência na Guatemala.

Além de Colom, integram a comissão o vice-presidente Rafael Espada, e os ministros: da Saúde, Ludwig Ovalle; do Interior, Carlos Menocal; da Defesa, Abraham Valenzuela. A equipe ainda contará com a ajuda de representantes do Colégio de Médicos da Guatemala.

domingo, 15 de agosto de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Luis Inacio Lula da Silva - o líder da Paz

“Aprendemos com nossa própria história que a tolerância e a igualdade de oportunidades são fundamentais para um ambiente de concórdia e de paz. Ela nos ensinou que a exclusão, o preconceito e a pobreza alimentam cenários de tensão e de conflito, fomentam situações de dominação e de injustiça, que impedem povos e nações de construírem um futuro digno e pacífico.
Não haverá encontro fraternal de civilizações enquanto não forem enfrentadas as raízes profundas dos conflitos, enquanto houver fome e desemprego, mas também enquanto persistir a intolerância étnica, religiosa, cultural e ideológica.
A promoção de uma cultura de paz deve ser um dos pilares centrais deste Fórum. Para tanto, precisamos renovar mentalidades. Para renová-las é necessário oferecer oportunidade de crescimento econômico com justiça social aos milhões de homens e mulheres que vivem nas margens da Humanidade, humilhados e ofendidos, sem esperança.
São absurdas as teses sobre uma suposta fratura de civilizações no mundo que conduziria, inexoravelmente, a conflitos. Essas teorias são criminosas quando utilizadas como pretexto para ações bélicas, ditas preventivas.
O Brasil aposta no entendimento que faz calar as armas, investe na esperança que supera o medo, faz da democracia política, econômica e social sua única e melhor arma.”

6.080 visitas - mais de 100 visitas por dia


quinta-feira, 27 de maio de 2010

domingo, 9 de maio de 2010

Os filhos dessas mães (Eduardo Guimarães)

DO BLOG CIDADANIA

(http://edu.guim.blog.uol.com.br/)

Terça-feira, 4 de maio, meio da tarde, rua Amaral Gurgel, bairro da Consolação, centro de São Paulo.

Faz mais calor do que prometeu a previsão do tempo. Arrependo-me de ter ido de metrô ao centro, sendo obrigado a caminhar por ele carregando uma bolsa pesando uns 5 quilos e usando uma camisa de mangas compridas, o que me faz suar e ofegar.

Devo ir à rua Rui Barbosa. Dá para ir a pé. É menos de um quilômetro.

Contudo, há um problema: terei que atravessar a desértica via expressa que passa sob a praça Franklin Rosevelt – e o local, apesar do grande tráfego de carros, é perigoso, pois habitado por moradores de rua que assediam qualquer um que passe por ali.

Parece-me preconceito. E, afinal, é a minha cidade. Sinto uma sensação de perda ao sentir medo de caminhar por ela.

Decido, pois, que, tomando cuidado, devo enfrentar aquele medo. Aventuro-me pelo ponto da Amaral Gurgel em que ela mergulha sob a rua da Consolação e a praça Roosevelt .

Água empoçada na calçada larga, no sentido centro-bairro, muita sujeira, paredes pichadas, má iluminação e um cheiro insuportável de urina.

Caminho cerca de vinte metros e, sob um vão do viaduto, num canto escuro em que parece haver toda a sujeira do mundo, vejo um ser humano maior e três pequenos que se movem ao seu redor.

Tiro os óculos escuros de grau – até porque, já me impediam de ver onde pisava –, coloco os convencionais e forço a vista cansada na direção do adulto cercado de crianças, agora já sentindo náuseas devido fedor.

A cena que diviso é sempre deprimente. O adulto está sentado e tem um cobertor ou manta sobre as pernas – naquele calor. Suas roupas e as das crianças, bem como as peles de todos, têm um tom cinzento – uma ilusão de ótica causada pela sujeira que os impregna.

Levo comigo um computador, dois celulares e quase trezentos reais no bolso, mas são apenas uma mulher e três crianças. A maior não tem dez anos. Sinto-me patético pelo medo que me inquieta, ainda que saiba que temer até mesmo crianças, nestas megalópoles enlouquecidas, está longe de ser covardia ou paranóia.

De repente, o grupo cinzento me nota. Sinto um frio na barriga e um ímpeto de voltar por onde vim – correndo. Mas as crianças são mais rápidas. Antes de concluir se devo ou não retroceder, já estão à minha volta. A mulher começa a se levantar...

Permaneço imóvel. A calçada, naquele ponto, é bem larga. Mais de dez metros me separavam do grupo. Haveria tempo de voltar, mas me sentiria mais ridículo ainda fugindo de uma mulher e de três crianças do que já me sentia por estar com medo.

Uma das crianças, a menina maior, uma caboclinha de cabelos duros de sujeira, usando uma blusinha de botões que só lhe serviu quando era menor e que já deve ter sido vermelha, e uma saiazinha de brim com umas tachinhas enfeitando que já não cobria mais nada, pede-me um cigarro (!).

Não respondo, mas não fujo. Fico ali, imóvel, sem saber o que fazer. Negar o cigarro será uma provocação, até porque o maço é visível no bolso da camisa. Então, decido apelar para um tom amistoso e bem-humorado para ganhar tempo e ver até onde é possível dialogar.

-- Como é seu nome, meu bem?

A menina resmunga alguma coisa com uma voz meio inaudível, meio gutural que me impressiona e assusta. Agora já estou arrependido de não ter ido de carro ao bizarro e caótico centro de São Paulo.

As crianças já me cercam e a mulher, agora coberta pela manta como uma beduína, está praticamente junto de nós. Achei que me pediu “um trocado”. Mas minha maior atenção estava no pequenino, de uns seis anos, que toca na pasta que levo a tiracolo com o dedinho indicador sujo, repelente.

A mulher já está diante de mim à distância de um braço. Noto que é jovem, apesar do rosto inchado. Deve ter uns 25 anos. Pergunto-lhe se é a mãe das crianças, ao que ela balança a cabeça em confirmação. E passa a me encarar fixamente, com o cenho franzido.

Posso lhe sentir o hálito rescendendo a álcool e um fedor de urina insuportável. Começa a falar de uma forma tão desconexa que não consigo entender uma única palavra do que diz. Sou tomado pelo horror, diante da situação, e me sinto extremamente covarde e preconceituoso.

O garotinho, de uns seis anos, já segura minha pasta com as duas mãozinhas e o resto do pequeno grupo já me cercou completamente.

Antevejo que outros tocarão em mim e decido ir embora dali. Não conseguirei conversar e só usando a força poderei conter os abusos que agora tenho certeza de que aumentarão.

Caminho mais rapidamente do que as crianças conseguiriam acompanhar sem correr. Além do que, a mulher mal se agüenta em pé.

Para minha surpresa, não me perseguem. Mas começam a me xingar, todos ao mesmo tempo. Entendo alguns palavrões, mas as vozes cobrem umas às outras e as palavras incompreensíveis da mulher sobressaem às das crianças, tornando a situação ainda mais bizarra.

Foi fácil me distanciar. Quando me dou conta, já estou diante do local a que me dirigira, na rua Rui Barbosa. Estou suando e ofegante. Sinto-me péssimo. Patético. Fugi de uma mulher caindo de bêbada e de três crianças pequenas.

Ao mesmo tempo, sinto revolta. Que sociedade é esta que permite que parte tão significativa da população perambule pelas cidades naquelas condições? Ocorre-me um pensamento curioso: que vergonha sinto dos estrangeiros que vêm a São Paulo e se hospedam no centro – e são muitos.

Revolto-me com um Estado irresponsável. Em seguida, cogito sobre o futuro daquelas crianças. A menina maior, trajando aquelas roupas curtas, logo será mocinha, apesar de que já daquele tamanho é um prato cheio para pervertidos nas ruas. Mas quantas outras crianças ela colocará nessas ruas?

Que será dos filhos daquela mãe, meu Deus? O que será deste país até que esta nossa sociedade moralmente enferma descubra o que ela semeia ao permitir barbaridades como aquela? E, finalmente, quanto irá demorar até que me esqueça daquela tarde?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

SIAT-G: Sistema de Informação sobre Agentes Teratogênicos e Doenças Genéticas

.
O SIAT-G é um projeto de extensão da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte (CE) que tem por objetivo informar a população sobre agentes teratogênicos e sua influência sobre o feto durante a gravidez, além de informar sobre doenças genéticas.

Este projeto faz parte de um grupo nacional de SIATs, sendo este o único do Brasil que informa sobre doença genéticas.

As pessoas interessadas em conhecer mais sobre o projeto podem ligar para o telefone

(88) 3572.7828

De segunda a sexta, de 08:00 às 11:30.

sábado, 24 de abril de 2010

Avanços na neurologia


Silenciamento do gene Abcc8 impede processo de autodestruição.



http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2010/04/cientista-desliga-um-unico-gene-e-recupera-lesao-na-medula-espinhal.html

LEGENDA DA FIGURA

Medula espinhal de ratos 24 horas após ferimento
cervical: a cobaia B recebeu tratamento para
silenciar o gene Abcc8, com uma notável redução
de hemorragia

quinta-feira, 22 de abril de 2010

DESVENDANDO A PATOLOGIA - BLOG DE Júlio C./ Pablo E./ Stphane M./ Hugo M./ Camila M./

http://patologiaja.blogspot.com/2010/04/participem.html

3º Jornada da fisioterapia:

As inscrições dos trabalhos a serem apresentados na III Jornada de Fisioterapia da
Faculdade Leão Sampaio serão realizadas no período de 08/04/2010 a 15/05/2010,
impreterivelmente.

As Realizações de palestras envolvendo varios temas de teraputicas como Eletroterapia, Bototerapia, isostretching , aculputura e diversos temas , envolvem nao só a tecnica mais o entendimento de possiveis patologias associadas

Não Fique de fora as inscrições serão abertas apartir do dia 27/04 APROVEITE

CRIATIVIDADE é disto que falamos sempre...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Etapas do reparo de feridas

Reparo de feridas agudas e crônicas



Atrapalhando o reparo dos tecidos


Mecanismos que pertubam o reparo dos tecidos.
Fatores bacterianos que ativam a inflamação produzindo um ambiente desfavorável ao reparo, destruindo fatores de crescimento e pertubando a matriz extracelular.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Canadense, brasileiro, angolense...


A expectativa de vida nos diversos países do mundo é muito discrepante.

Ao longo da história da humanidade, a expectativa de vida também sofreu grande aumento. De 18 anos na IDADE DO BRONZE, passando por 20-30 anos no período MEDIEVAL e 30-45 anos no começo do século XX, a quase 70 anos no século XXI.

O ser humano.... a partir de quando?

Os seres humanos existem há cerca de 200.000 a 500.000 anos.

E por volta de 75.000 anos se dispersaram a partir da África, pela migração de entre 500 e 1.000 pessoas, depois de um longo período de seca.

FONTE:
BUSCA NO GOOGLE COM OS SEGUINTES DESCRITORES

demography homo sapiens Christopher Scholz

Endometriose

quarta-feira, 3 de março de 2010

Portátil

O TEXTO A SEGUIR É DE UM DOS BLOGS DO SCIENCEBLOGS, um dos meus prediletos.


http://scienceblogs.com.br/eccemedicus/

É a autópsia do pensamento técnico e moral do médico contemporâneo que me interessa. Seu pequeno mundo, suas certezas, seus deslizes, suas angústias. Sua relação com a Ciência e desta, com o mundo. Para que se possa tomar conhecimento de como um médico se torna o que é, nos dias de hoje. Eis o médico, pois. Ecce Medicus. Seja bem-vindo. Por Karl.

"Recentemente, a ultrassonografia (USG) vem ganhando um espaço jamais imaginado na prática médica. Antes, um campo dominado exclusivamente pelos radiologistas, o "ultrassom" vem sendo incorporado a várias outras especialidades como traumatologia, emergências, terapia intensiva, cirurgia geral e vascular, entre outras tantas. Os aparelhos vem melhorando dia a dia e as imagens, que antes pareciam as de uma TV com "chuvisco" foram ficando impressionantemente nítidas. Qualquer pessoa que já viu um ultrassom morfológico de uma mulher grávida sabe do que estou falando. Além disso, a tecnologia foi ficando mais barata, simples e menor! Esse último adjetivo é o motivo do post. Recentemente, a GE Healthcare lançou um aparelho de ultrassonografia que é mais que portátil. É de mão! Chama-se VScan (foto ao lado)."

"Bom, o fato é que um aparelho assim, do mesmo tamanho que um Iphone, permite fazer alguns exames interessantes em qualquer consultório. Um deles é o próprio ecocardiograma, que se baseia nos mesmos princípios ultrassonográficos de um aparelho comum de ultrassom obstétrico ou abdominal. Isso permite que o médico ao invés de auscultar um sopro cardíaco, o visualize, quantifique, diagnostique, com uma precisão jamais imaginada à beira do leito. Um dos cardiologistas mais famosos do mundo, o prof. Eric Topol (blogueiro dos bons!) não esconde sua admiração. Abaixo, um filme promocional."

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

VIDA - um desafio entrópico I

A patologia estuda as doenças, considerando especialmente quantro aspectos - etiologia, patogênese, alterações morfológicas e alterações funcionais.




As células constituem as unidades morfofuncionais dos seres vivos, e compreendendo o que ocorre no nível celular, pode-se entender melhor o comportamento das doenças.

Apesar da dificuldade de se definir DOENÇA, em contraposição a SAÚDE (visto que vários aspectos biológicos e sociais estão envolvidos) , deve-se observar a HOMEOSTASIA celular como um processo dinâmico.

O ambiente estimula permanentemente as células, de forma que VIVER É UM DESAFIO. Um conceito que acompanha este desafio é o da ENTROPIA. Afinal, toda a energia tende a sofrer aumento de entropia ("desorganização" "dissipação"). A homeostase celular depende de gasto de energia e da manuntenção de um espaço celular em um estado de menor entropia em relação ao meio externo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

EFEROCITOSE


Do Latin effere significando túmulo, sepultura. Eferocitose refere-se ao processo pelo qual células apoptóticas têm seus corpúsculos apoptóticos removidos e degradados. Formam-se eferossomas.

As células mortas são removidas antes que percam a integridade da membrana e seu conteúdo seja liberado no espaço extracelular. Isto previne a exposição do tecido a enzimas tóxica, oxidantes e outros componentes intracelulares, tais como proteases e caspases.

Diversos tipos de célula pode realizar EFEROCITOSE. Os corpos apoptóticos apresentam-se sinalizada pela presença de FOSFATIDIL SERINA (resultante do flip-flop na membrana) ou CALRETICULINA na porção externa da membrana citoplasmática.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Neurônios nada ! a consciência é do astrócitos.

Luciana Christante tem um blog. O blog dela é um dos ligados a rede scienceblogs. E ela realizou uma postagem muito interessante sobre o papel dos astrócitos e do cálcio. Tá, tudo ainda é muito teórico.... mas vale a leitura.
abraços,
.
http://scienceblogs.com.br/efeitoadverso/2010/02/seria_a_consciencia_uma_onda_d.php
.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Que merda!... dois lixeiros desejando felicidade...
Do alto de suas vassouras... dois lixeiros...
O mais baixo da escala de trabalho... (deu pau! Deu pau!)


É prá quem quiser ouvir, isto que eu vou dizer
Com o microfone em aberto, doa a quem doer

Ele trampa na Band, era um respeitado âncora
Agora já era, uma lamentável anta

Se desculpou pelo modo de ter sido transmitido,
O que vale é o pensamento por ti emitido.
Independente disto que tu disse é o que tu pensa.
Nêgo, dispensa suas desculpas de aparência!

Falsário, facista, otário, classista,

No noticiário, um comentário elitista!
O seu silêncio o povo pede
Se fez merda, não mexe
Mais mexe, mais fede, isso

Falando em mau cheiro é quem tu chama de lixeiro
Quem inibe a multiplicação da sua espécie: Lixo

Quantos são felizes sem o diploma de médico
O triste é ter que ouvir profissional anti-ético

Crenças e doenças o fizeram excluídos na infância
Nem isso amenizou sua arrogância
Se eu fosse você teria vergonha novamente de dizer

Isto é uma vergonha!
A televisão não gosta disto.... sei lá, nós erramos.
A não ser quando ela é obrigada a fazer.


A gente se desculpa pelo que não quis fazer
Você quis dizer, só não quis que viesse a perceber
O tipo de infelizes que você é!
Falam o que quis, agora ouve o que não quer.

Na redenção, não foi verdadeiro
Sem opção, ou pedia perdão ou um novo emprego de lixeiro
Isso se o lixo concordasse
Em ser recolhido por alguém da sua classe

Mas a pior sujeira não sai com sabonete
Só vai varrer pra baixo do tapete

Lamentável seu falso arrependimento não faz do seu conceito um lixo reciclável
Mas cada um acha o que quer, não é mesmo?
E você achou confusão com o País inteiro
Se redimir pelo que é estupidez
Comentário infeliz, infeliz é quem o fez.

Num vazamento de áudio eu fiz um comentário infeliz
Que pode ter ofendido determinados profissionais da mídia
Aos que se sentiram ofendidos, eu peço minhas profundas desculpas
F U T E B O L